Com exploração parcial do SGDC, Telebras avança nas receitas e reduz prejuízo
A Telebras avançou nas receitas em 2018 graças a novos contratos e ao uso do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC) para a Defesa e para o Gesac, ainda que a exploração comercial por meio do modelo de receita compartilhada com a Viasat não tenha iniciado e que o próprio artefato tenha aumentado a depreciação e amortização em quase R$ 11 milhões mensais. No balanço financeiro da estatal divulgado nesta sexta-feira, 15, a empresa também mostrou ter reduzido o prejuízo, mas afirmou que 2018 foi um ano desafiador e que poderia ter sido mais positivo, não fossem os litígios que impedem o total uso operacional do SGDC.
No comunicado da administração aos acionistas, a Telebras afirma que o foco no ano passado foi na consolidação estrutural e operacional, especialmente com relação ao SGDC e a infraestrutura satelital, mas também no gerenciamento do desempenho econômico-financeiro. “Diante dos bons resultados conquistados ao fim do exercício, esse alinhamento mostrou-se assertivo, o que não significa que tenha sido um ano fácil”. A companhia se refere especialmente aos embates na Justiça para o reconhecimento legal da parceria com a Viasat para a operação da capacidade civil do satélite brasileiro.
A receita operacional líquida da companhia foi de R$ 199,6 milhões em 2018, um aumento de 172% comparado a 2017. A empresa justifica o aumento com o maior volume faturado com novos contratos, crescimento da banda ativada, incremento de circuitos geradores de receita (especialmente do Dataprev, Ministério do Trabalho e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). A receita operacional de SCM foi de R$ 169,4 milhões, avanço de 71,57%.
Sem comparativo por ter sido iniciada no ano passado, a receita de locação de capacidade satelital foi de R$ 78,2 milhões. Esse valor veio do início do reconhecimento da locação da banda X para o Ministério da Defesa (a partir de julho), valor recebido antecipadamente pela Telebras e com receita reconhecida ao longo de 15 anos (prazo do contrato para o uso da capacidade do SGDC). Além disso, houve reconhecimento de receita antecipada referente a 2017 pelo MCTIC no valor de R$ 60 milhões referente à entrega da reserva da banda satelital par ao Gesac. A companhia encerrou o ano com 65 VSATs instaladas em clientes.
Vale ressaltar que a Telebras registrou R$ 126,7 milhões em depreciação e amortização, um aumento de 108,4% comparado a 2017. A empresa justifica isso com a mudança de status do SGDC, passando de “em andamento” para “em serviço” no terceiro trimestre, o que gerou um acréscimo médio mensal na depreciação de R$ 10,8 milhões. Entre julho e dezembro do ano passado, o valor do custo reconhecido de depreciação do satélite foi de R$ 65,1 milhões. A amortização do direito de exploração do SGDC pago à Anatel totalizou R$ 200 mil no mesmo período.
Destaca-se ainda que a Telebras manteve no relatório a expectativa de gerar receitas de mais de US$ 1 bilhão nos próximos dez anos com o modelo de compartilhamento de receita com a Viasat. A empresa diz que os engenheiros do projeto SGDC estimam a vida útil do artefato em 17 anos.
Prejuízo
O prejuízo antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBTIDA) foi de R$ 62,8 milhões, o que significa que a estatal reduziu significativamente o EBTIDA negativo registrado em 2017, de R$ 150,7 milhões. Assim, a margem EBTIDA negativa saiu de -205,71% em 2017 para -31,46% em 2018. O EBTIDA ajustado foi negativo em R$ 86,4 milhões, redução de 39% frente ao ano anterior, enquanto a margem EBTIDA ficou em -43,3%, contra -193,2%. Segundo a Telebras, a melhora está ligada ao aumento da receita operacional líquida com novos contratos, além do reconhecimento da receita da capacidade satelital pelo Gsac e para a Defesa.
Em 2018, a Telebras reduziu e, 7,78% o prejuízo do exercício, totalizando agora R$ 224,8 milhões. O prejuízo ajustado foi de R$ 282,8 milhões, aumento de 34,2%, explicado pela estatal com o aumento do custos de meios de conexão e transmissão (principalmente EILD), aumento dos custos de depreciação com o início da operação do SGDC e mudança no reconhecimento de encargos financeiros.
Infraestrutura terrestre
Em outra frente, a companhia também chama atenção para o que chama de “salto estratégico” ao trocar a participação societária no cabo submarino Brasil-Portugal pelo direito de uso irrevogável de parte da capacidade. A Telebras alienou sua participação no ano passado, deixando a joint-venture formada com a EllaLink. O valor da receita apurada com a alienação foi de R$ 9,5 milhões. A troca prevê a compra de 200 Gbps entre Lisboa e Fortaleza (100 Gbps no primeiro ano e 100 Gbps no segundo ano, mantendo vigência por 15 anos), além da opção de compra de mais 800 Gbps (com taxa de 100 Gbps/ano) e a extensão do prazo do direito de uso por mais de 10 anos. Há ainda a opção de recepção do sinal em Praia Grande (litoral paulista) em vez da capital cearense.
A infraestrutura terrestre da Telebras conta com capacidade de 1,6 Tb e 26 mil km de extensão. Com isso, a companhia provê conectividade diretamente ou através de parceiros a uma população de 130 milhões de habitantes, alcançando 3.654 circuitos instalados, mais do que o dobro (111%) do registrado em 2017. A empresa tem parceria com 195 provedores em todas as unidades federativas.
Otimismo
A empresa diz ter evoluído na governança corporativa, sobretudo em princípios de transparência, prestação de contas e responsabilidade empresarial, além da gestão estratégica. Isso estaria demonstrado com o crescimento de 300% no indicador de governança IG-Sest, da Secretaria de Coordenação e Governança das Estatais (SEST), do Ministério da Economia. “Em suas escolhas estratégicas até aqui, a Telebras tem dado passos importantes sempre em busca da geração de valor e do crescimento da sociedade e do país.”
A administração da Telebras diz que os resultados só não foram “ainda mais impressionantes” no ano em virtude desse litígio contra o contrato com a operadora satelital norte-americana, o que “se arrastou ao longo de todo esse ano e atrasou a instalação e o faturamento dos circuitos satelitais”. Mesmo assim, a empresa diz estar otimista para 2019. “A consolidação da infraestrutura plena do SGDC deixa a empresa pronta para colher os benefícios de sua estratégia focada em ações resilientes, com larga escala operacional e dotados de oportunidades, via satélite, para cumprirmos as agendas do Estado e de programas sociais do Brasil. Os desafios conjunturais seguem presentes em 2019 e, apesar disso, continuaremos empenhados em ampliar as conquistas econômico-financeiras e concretizar a contínua geração de valor da companhia.”
Bruno do Amaral, Teletime, 15 de março de 2019