O Brasil poderia ser a China
Neste momento está sendo construída na China uma cidade, Xiong’an, que será totalmente automatizada com base na tecnologia 5G. Será inaugurada em 2020 e terá 6 milhões de habitantes. Nessa cidade futurista, os automóveis e os trens serão dirigidos sem que haja necessidade de um motorista ao volante. Até as cirurgias serão realizadas a distância.
Esse mundo novo já se apresentou em março de 2019 quando ocorreu a primeira cirurgia cerebral remota num ser vivo. O médico realizou a cirurgia a 3000 Km de distância. A rede 5G resolveu problemas como o atraso do vídeo e o atraso do controle remoto. Foi uma operação quase em tempo real. Um sucesso. Chinês.
Para que tudo isso ocorresse houve um investimento pesado em pesquisa e desenvolvimento. Pode-se afirmar que a China, hoje, chegou a um patamar inalcançável até mesmo pelos outros três líderes globais no setor – EUA, Japão e Coreia do Sul.
Não é a toa que estamos vivendo uma nova “guerra fria”. Os EUA tentam sabotar a Huawei, a operadora chinesa que é líder global em soluções de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Esse é o grande negócio do presente e do futuro.
O Brasil poderia ter sido a China, mas fez uma escolha equivocada com a privatização do setor de telecomunicações, em 1998. Naquela ocasião, tínhamos o único centro de pesquisa fora do eixo Europa, Japão, EUA: o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás (CPqD). Com o CPqD obtivemos o controle da tecnologia da fibra ótica, de centrais eletrônicas. Exportávamos o cartão indutivo para telefone público para a China.
E hoje? A Oi, criada para ser a grande operadora nacional, tem seus equipamentos entregues pela Huawei. O Brasil abriu mão de seu papel de exportador de conhecimento e tecnologia para viramos um mero importador dos produtos chineses.
Não podemos, no entanto, ficar nos lamentando.
Apesar de toda conjuntura contrária em nosso país, precisamos exigir que haja investimento em conhecimento, fortalecimento das universidades públicas em relação às telecomunicações/tecnologia da informação. Exigir que as operadoras de telecomunicações no Brasil não se apropriem apenas dos lucros para seus acionistas, e, sim, garantam investimento em capacitação, em conhecimento, em pesquisa.
Ainda que tardiamente, devemos buscar o nosso espaço no cenário nacional e internacional das telecomunicações.
Instituto Telecom, Terça-feira, 30 de abril de 2019
Veja o Canal do Instituto Telecom no YouTube