Medidas dos EUA subestimaram a Huawei, diz fundador
A “trégua” de 90 dias dada pelo presidente norte-americano Donald Trump à Huawei na última semana não deverá abalar a companhia, afirmou o fundador da chinesa, Ren Zhengfei, em entrevista a jornalistas locais na emissora de televisão estatal CCTV. “Esses 90 dias não significam muito para nós e estamos prontos”, afirmou. Mas, em seguida, deu o recado: “É provável que os políticos dos EUA tenham subestimado nossas forças.” Segundo o executivo, a fornecedora já está em contato com “líderes de diferentes países” para contornar a situação.
A estratégia é de mostrar que não há grandes impactos sentidos. “Nossa capacidade de produção em massa é enorme, e colocar a Huawei na ‘Entity List’ não terá um grande impacto sobre nós. Estamos progredindo com nossas licitações globais.”, afirma. “A campanha dos EUA não será poderosa o suficiente para chamar todos para segui-los.” Ele diz que crescimento do faturamento da empresa caiu de 39% em março para 25% em abril, mas insiste que o veto dos EUA “não levará a uma diminuição ou prejudicar o crescimento da nossa indústria”.
Zhengfei alega que em questão de equipamentos de redes para 5G, há uma vantagem para os clientes da Europa em usar os produtos da chinesa – ele fala em redução de custos de engenharia em 10 mil euros por site, já que o hardware tem tamanho e peso reduzidos, o que exime a necessidade de uso de guindastes para instalação ou de construção de torres. “Na verdade, percebemos que esse departamento não enfrenta tantas dificuldades quanto os outros, porque está se preparando há muito tempo. Nossas tecnologias 5G, de transmissão ótica e de rede principal estão livres da pressão que está sendo exercida neste departamento, e essas tecnologias serão as líderes mundiais por muitos anos”, afirma.
A maior divisão da Huawei, a de consumer, também tem um plano já em execução. O executivo diz que, para cada chip comprado de terceiros como a Qualcomm, foi produzido mais um internamente. “Podemos manufaturar todos os chips high-end nós mesmos”, atesta. A fornecedora já teria começado a se preparar há alguns anos – ainda em 2000, ela tentou ser vendida nos EUA para colocar um “chapéu de cowboy americano”, mas a transação não foi para frente. Desde então ela começou a trabalhar na preparação para eventual hostilização norte-americana. A previsão era de que os EUA iriam agir somente daqui a dois anos, mas com a prisão da Meng Wanzhou, “tudo ficou claro” e foi necessário medidas mais imediatas.
Ainda assim, metade das peças comercializadas pela companhia são produzidas por outros – a estimativa é de que a Huawei compra pelo menos 50 milhões de chipsets da Qualcomm a cada ano. Já com o Google, diz Zhengfei, há uma tentativa de ação. “Eles também estão tentando convencer o governo dos EUA a resolver esse problema. Estamos agora discutindo soluções viáveis para isso, e nossos especialistas ainda estão trabalhando nisso.” Vale lembrar que a companhia ainda pode ter contratos com empresas norte-americanas, desde que validados pelo Congresso.
Mesmo com essa ajuda do Google, de quem usa o sistema operacional Android, a Huawei já havia se preparado com sua plataforma própria, o Hongmeng. Mas a companhia chinesa não o considera como algo para os smartphones necessariamente. “Podemos criar nosso próprio sistema operacional, mas isso não significa necessariamente que ele substituirá outros sistemas operacionais. Precisamos usar sistemas operacionais para o nosso trabalho em inteligência artificial e na Internet das Coisas, mas não está claro quais são usados e quais não são”, afirmou Ren Zhengfei.
Bruno do Amaral, Teletime, 27 de maio de 2019