O ovo da serpente

abr 25, 2016 by

O ovo da serpente tem membranas tão finas que é possível ver o réptil em seu interior. Assim é o apoio da grande mídia e dos grandes empresários brasileiros a golpes de Estado – só não vê quem não quer.

O ovo da serpente é exibido diariamente nos lares de todas as regiões do país. E ele tem nome: Jornal Nacional. Ainda hoje o principal noticiário televisivo do país, o Jornal Nacional tem sido o porta-voz do que existe de mais negativo e nebuloso no Brasil. Em seu livro, “O Quarto Poder”, o jornalista Paulo Henrique Amorim mostra que vem de longe a prática da mentira e da distorção dos fatos.

Logo na sua estreia, em 1º de setembro de 1969, em plena vigência do AI-5 (Ato Institucional nº 5), o Jornal Nacional lançou sua primeira mentira. Informou que o presidente Costa e Silva, em recuperação de “crise circulatória”, seria substituído por uma Junta Militar. Na verdade, o general Costa e Silva havia sofrido um derrame cerebral e jamais retornaria.

A partir de então, as Organizações Globo cumpriram com louvor seu papel de dissimular, manipular e mentir sobre o governo militar e as barbaridades cometidas no país. As torturas aconteciam e a Globo só mostrava o Brasil que, aparentemente, dava certo.

Antes do Jornal Nacional a Globo tinha criado o Ultranotícias, patrocinado pelo Grupo Ultra que também patrocinava a temida Operação Bandeirantes. Na essência, uma formação paramilitar de ação da direita cujo membro mais famoso foi o major e torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. O vice-presidente do Grupo Ultra, Henning Bilesen, um sádico, chegou a presentear os torturadores com um “piano” com teclas que disparavam choques elétricos.

Em seu livro “História da Imprensa no Brasil”, Nelson Werneck Sodré destacava que “quando a imprensa, como aqui e agora, modula um coro repetitivo de louvação ao neoliberalismo, está claro e evidente que perdeu a sua característica antiga de refletir a realidade.” Paulo Henrique Amorim resgata o autor para afirmar: “O governo (militar) não só construiu a rede (de televisão) como também isentou de taxas de importação os equipamentos comprados pelas emissoras, aumentou o orçamento de publicidade na TV e congelou impostos e taxas que as emissoras deveriam pagar. A Globo, por exemplo, importou equipamentos da RCA Victor americana, em abril de 1966, com câmbio ‘especial’ – pagou um terço do valor do dólar”.

Tomara que não seja tarde para que a população perceba a manipulação em curso, cujos principais objetivos são a não democratização da mídia, a não universalização da banda larga, a privatização do que sobrou das estatais, uma reforma trabalhista contrária aos interesses dos trabalhadores, uma terceirização em massa, o fim da política de valorização do salário mínimo.

O ovo de serpente ainda pode ser destruído. Para isso é preciso ver a serpente sendo gerada e matá-la antes que o mal seja irreparável.

Instituto Telecom, Terça-feira, 26 de abril de 2016

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