Queima de livros e um país sem futuro
Enquanto um novo mundo está sendo criado com a tecnologia 5G – e a China é o maior exemplo disso com a inauguração, em 2020, de Xiong’na, cidade inteiramente baseada nesta tecnologia -, no Brasil vivemos uma era de retrocessos. O governo eleito em 2018 investe contra as universidades públicas e os institutos federais, asfixiando economicamente nossos centros de formação, capacitação e reflexão.
A situação é tão dramática que acadêmicos de todo o país têm feito denúncias públicas sobre o caos que se instala. O reitor da Universidade de Brasília, professor José Geraldo, fez um paralelo histórico para exemplificar o Brasil de hoje: “Em toda ação política autoritária – diz ele -, logo se instala o horror à crítica e à reflexão, muito fortes no ambiente cultural e na educação. Pense em Goebbels e seu tão forte horror à cultura que lhe dava o desejo de empunhar a pistola. E em Mussolini, ao afirmar em seguida à condenação de Gramsci, que era preciso fazer aquele cérebro parar de pensar por 20 anos. E na funesta procissão das tochas na Alemanha nazista, culminando com a queima de livros de Filosofia, de Sociologia e de Literatura”.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou nota na qual alerta: “pretende-se restringir a formação universitária à mera aplicação de técnicas importadas e reduzir fortemente os investimentos em ciência, tecnologia e inovação, o que afetará profundamente as universidades e instituições públicas de pesquisa responsáveis por grande parte da produção científica e tecnológica do Brasil e colocará em risco a sobrevivência do sistema nacional de CT&I e a própria soberania nacional. O domínio da cadeia de conhecimentos científicos e tecnológicos, como evidenciado pela história de todos os países desenvolvidos, é imprescindível para a superação da crise atual do País e para seu desenvolvimento econômico e social”.
O corte de verbas anunciado pelo governo Bolsonaro se junta ao corte de direitos trabalhistas, à tentativa destruição da Petrobrás e da Eletrobrás, ao fim da previdência pública, à aprovação do PLC 79. O PLC 79 permite que, sem licitação – isto é, ilegalmente -, o patrimônio público seja transferido para concessionárias privadas sem nenhuma obrigação de investimento, nem na universalização, nem em pesquisa ou desenvolvimento.
Só isso já seria uma catástrofe, mas ainda há pior. O projeto recupera a política de destruição do Estado encaminhada por Collor e Fernando Henrique. Este último teve como um dos principais feitos a privatização do Sistema Telebrás e o fim do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás (CPqD), instituição que foi responsável pelo controle da tecnologia da fibra ótica, das centrais eletrônicas, da exportação do cartão indutivo para telefone público para a China.
Um país não avança sem investir em conhecimento, em educação. Um país não tem presente, nem futuro abrindo mão do que é essencial. O Brasil não pode passar de país do futuro para país sem futuro.
Instituto Telecom, Terça-feira, 7 de maio de 2019
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