Teles e TVs já desenham um acordo pelo adiamento do cronograma da TV digital

out 8, 2015 by

A oficialização pela Abert durante a abertura de seu congresso anual do desatrelamento do processo de desligamento dos sinais de TV analógica da liberação das faixas de 700 MHz para as empresas de telecomunicações marcará o início da fase de negociação efetiva sobre a proposta. A presidenta Dilma Rousseff deu o sinal verde para a mudança do cronograma nesta terça, 6, ao abrir o evento. E ao tomar posse, o novo ministro das Comunicações André Figueiredo também mostrou ser simpático à ideia de um adiamento no cronograma, pelo menos no caso da cidade de Rio Verde/GO.

As coisas não estão desvinculadas. Rio Verde é a cidade-piloto escolhida, mas as emissoras de TV querem transformar Brasília no verdadeiro teste do switch-off, deixando o desligamento da capital para o final de 2016 – as demais cidades viriam em sequência. Precisam desse adiamento porque muitas emissoras não têm como investir na digitalização nesse momento.

Este noticiário apurou que já existem conversas evoluindo rapidamente entre teles e TVs nesse sentido e que alguns argumentos em torno de uma flexibilização do cronograma começam a fazer sentido para as empresas de telecomunicações. Um deles é que, se não houver negociação, não haverá desligamento nem liberação do espectro de 700 MHz, simplesmente porque o cronograma é de fato muito apertado e porque as emissoras de TV têm poder político para postergar o processo se quiserem, o que vai levar a situação a um cenário ruim para 2018, em que as teles não terão o espectro, terão que brigar na Justiça para recuperar o dinheiro que pagaram e correm o risco de ficar sobrecarregadas nos serviços de banda larga móvel.

A ideia que começa a ganhar corpo, mas ainda não é unanimidade, é concordar com a proposta das emissoras de TV, mas negociar duas coisas, que precisariam ser garantidas pelo governo: 1) que haverá de fato uma publicidade mais agressiva pelo desligamento analógico, com mensagens grandes na tela, que induzam, ao criarem um incômodo visual, o telespectador a trocar seu televisor; e 2) que haverá uma mudança no critério de cálculo dos 93% dos domicílios aptos a receberem o sinal digital, ou mudando o percentual para índices mais fáceis de serem atingidos, ou pelo menos considerando os domicílios com TV paga e recepção por satélite como resolvidos.

A negociação deve ser complexa. Estima-se que serão necessários pelo menos 30 a 40 dias para refazer o cronograma e fechar uma lista de cidades em que o desligamento analógico é inevitável (casos como São Paulo, Rio e Brasília), onde basta um remanejamento de canais analógicos para que o espectro de 700 MHz seja liberado logo e cidades em que esse espectro pode ser liberado imediatamente para as teles, pois não há transmissões de geradoras de TV (caso de Salvador, por exemplo). Segundo apurou este noticiário, é preciso refazer os cálculos de interferências e planejar novamente a logística da migração e das campanhas de publicidade, mas há ganhos para as teles em aceitarem a oferta das emissoras de TV, pois a economia de recursos e a agilização da liberação do espectro em algumas cidades podem compensar o risco de um adiamento. Ao que tudo indica, um acordo entre teles e TVs começa a ter chances de dar certo. O efeito colateral será manter a TV analógica por mais tempo.

Samuel Possebon, Convergecom, Quarta-feira, 07 de Outubro de 2015

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