Cara de pau

ago 5, 2014 by

 

De onde nada se espera, não sai nada mesmo. Mais uma vez as operadoras (Algar Telecom, Claro, Embratel, GVT, Net, Nextel, Sky, TIM Celular, Oi Móvel e Vivo) vão contra o interesse público e dos cidadãos brasileiros. Reunidas sob a capa da autodenominada Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas – Telcomp, conseguiram uma liminar suspendendo o Regulamento Geral de Direitos de Serviços de Telecomunicações (RGC), aprovado recentemente pela Resolução nº 632, da Anatel.

 


A afronta ao direito do consumidor chega ao ponto de a Telcomp, a título de “esclarecimentos”, divulgar uma nota na qual afirma que “em paralelo a esta medida judicial, as prestadoras continuam a trabalhar com todo empenho e celeridade, para o cumprimento das novas exigências e cooperando com a Anatel na definição de parâmetros técnicos e outros requisitos, para possibilitar o atendimento, senão da totalidade, da grande maioria das novas exigências do RGC”.

O fato é que a liminar simplesmente desobriga as empresas associadas à Telcomp de cumprirem várias regras constantes do Regulamento. Entre outros pontos, de realizarem o retorno imediato para consumidores cujas ligações efetuadas aos call centers tenham sofrido interrupção; e de estender para os clientes antigos os mesmos benefícios ofertados a novos clientes.

Essas medidas foram amplamente discutidas com todas as empresas de telecomunicações que participaram do Grupo de Implantação do Regulamento e que resultou em um Manual Operacional. A aplicação das regras não ocorreu de um dia para outro. As operadoras tiveram 120 dias para se adaptar. Mas, não satisfeita, a Telcomp quer mais que a suspensão das regras. Ela quer anular todos os artigos com os quais discorda. E a Associação Brasileira de TV por Assinatura já entrou com uma ação reivindicando o mesmo. A Anatel, por sua vez, além de ter emitida uma nota esclarecendo a situação defenderá, por meio da Advocacia-Geral da União, a legalidade do RGC.

As operadoras estão muito acostumadas a desrespeitar as regras definidas pela Anatel. Descumprem as metas previstas no Plano Geral de Metas para a Universalização do STFC (PGMU), os indicadores de qualidade, não observam os prazos mínimos para suspensão de todo ou parte do serviço. Ignoram a proibição de venda casada ou a imposição de condicionamentos à contratação, cobrança indevida e não ressarcimento. Descumprem normas relativas à competição, não pagam a Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF). E quando são multadas, simplesmente não pagam as multas. No final de 2013, segundo o relatório anual da Anatel , havia cerca de R$ 2 bilhões de multas aplicadas e apenas R$ 90 milhões arrecadados.

O Instituto Telecom se une a todas as entidades que cobram a imediata aplicação do Regulamento Geral de Direitos de Serviços de Telecomunicações. As operadoras de telecomunicações dão mais uma prova de que não estão preparadas para o diálogo. Deixam os telefones públicos sem manutenção, não disponibilizam o Aice, entregam uma banda larga de péssima qualidade, mantem preços e tarifas abusivos, sonegam informações. Não é a toa que só há dois quesitos nos quais são campeões: no número de reclamações dos usuários e na cara de pau.

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