Declarações do presidente da Telefônica geram debate sobre neutralidade da rede
As declarações do presidente do grupo Telefónica, César Alierta, de que as operadoras têm direito de receber parte das receitas de sites de conteúdo como o Google iniciaram um debate sobre os modelos de negócio na internet e a neutralidade das operadoras que provêm a infraestrutura de conexão à rede.
O professor de Direito Amadeu Abril, que pertenceu ao comitê de direção da ICANN (sociedade que gerencia os dominios da internet), considera que a Telefónica cometeria um erro perigoso, ao penalizar o Google. “O tráfego não é gerado pelo Google e sim pelos clientes da Telefónica e das outras operadoras. É como se os gestores de uma estrada cobrassem aos motoristas que viajam para fechar um negócio um pedágio mais caro do que o cobrado a turistas. É como se cobrassem não por quilometragem ou volume do veículo e sim por critérios subjetivos, como a rentabilidade da viagem. lém disso, quem gera mais ocupação de banda, os sites de busca ou o compartilhamento de arquivos e os downloads? Discriminar o tráfego criaria complicações para a operadora”.
O professor da Politécnica de Madri, Jorge Pérez, coordenador do fórum para a governança da internet na Espanha, alerta que existe um tema pendente a ser resolvido: a chamada neutralidade da rede, que ele prefere chamar de “”debate sobre uma internet aberta”. “O crescimento da internet gerou dois modelos de negócio distintos: os que administram conteúdos e inovam e as operadoras, cuja rede é usada por aquele. Isso gera um um conflito básico, porque as operadoras têm que investir em infraestrutura e os beneficiários dessa melhora são os primeiros”.
Nos Estados Unidos, comenta Pérez, onde o debate sobre a neutralidade da rede (que as operadoras não possam discriminar discriminar o tráfego em função de seus interesses) é intenso e já deu desdobramentos interessantes.”A operadora Verizon e o Google apresentaram um documento conjunto”. Pérez está convencido de que o debate vai gerar algun tipo de acordo em que empresas como Google, Microsoft e Yahoo financiem parte da infraestrutura.”O problema é que não se sabe como”. E, antecipa Pérez, não será um acordo imposto pelos reguladores. Ele cita como exemplo o acordo da Apple com as operadoras, para vender seu iPhone. Um cenário onde as operadoras penalizem os sites que mais geram tráfego seria prejudicial para todos, acredita Pérez.