Economia com justiça social
Foi lançada na quarta-feira de cinzas a terceira Campanha da Fraternidade Ecumênica. Este ano, a Campanha traz como tema “Economia e Vida”, e vai tratar de Economia Solidária. A ideia é trazer à reflexão qual é o verdadeiro bem do homem, numa crítica clara à extrema valorização do dinheiro e dos bens materiais. Em artigo no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) -, o Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, afirma que o apego ao dinheiro é um dos fatores geradores de injustiças sociais, miséria, desonestidades, violências e insensibilidade diante dos sofrimentos do próximo.A Economia Solidária é uma outra forma de organização econômica. O objetivo deste sistema é valorizar o humano acima do lucro, em sentido inverso ao da economia neoliberal. Segundo o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), alguns dos princípios da Economia Solidária são a valorização social do trabalho humano, a busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza e os valores da cooperação e da solidariedade. Para o escritor Frei Betto, em artigo que trata da Campanha 2010, “a economia não deveria ser encarada pela ótica da maximização do lucro, e sim pelo bem-estar da coletividade”.
Cooperativas: benefícios e dificuldades
Um dos modelos de organização no modelo de Economia Solidária é a cooperativa, uma associação de pessoas que deve ter, no mínimo, 20 associados. O objetivo é organizar uma forma de trabalho diferente das empresas tradicionais, de forma mais democrática, onde cada associado representa um voto, ou seja, não há distinção entre os funcionários no processo de tomada de decisão. Neste tipo de organização, não existem patrões e empregados, mas um coletivo que trabalha pelo bem comum.
O cooperativismo tem beneficiado especialmente parcelas da sociedade que encontram dificuldade de inserção no mercado de trabalho tradicional, como é caso de deficientes (físicos e mentais) e egressos do sistema penitenciário.
A Cooperativa de Reciclagem Eu quero Liberdade (CoopLiberdade) , por exemplo, é uma cooperativa de reciclagem que trabalha desde 2005 com ex-detentos no Rio de Janeiro. Segundo o presidente e fundador da Cooperativa, Robson Borges, ela surgiu da necessidade de gerar trabalho e renda para essas pessoas que encontram forte resistência dos empregadores e até mesmo familiares, que não acreditam em sua recuperação. “Muitas vezes o sujeito acaba no submundo de novo por não encontrar outra saída”, afirma Robson. A CoopLiberdade trabalha com projetos ligados à preservação do meio ambiente, como coleta de óleo usado que se transforma em ração animal, sabão, entre outras coisas.
João Carlos é um dos 25 associados da Cooperativa de Trabalho Forte da Cidade de Deus (CoopForte CDD), uma cooperativa que reúne trabalhadores da construção civil na comunidade do Rio de Janeiro. Ele fala das desvantagens da cooperativa na hora de disputar algum trabalho com uma empresa privada. “O cliente ao saber que o contratante do serviço tem que pagar 15% do INSS sobre o valor da nota de serviço e com o risco de responder judicialmente a ação de um cooperado, optam por não contratar os serviços de uma cooperativa”, lamenta. Segundo João Carlos, com a dificuldade de sustento, muitos cooperados são obrigados a trabalhar individualmente.