Em vez de isolar, redes sociais estão nos tornando ‘hipersociais’, diz pesquisador
No entanto, alerta que escolas, por estarem presas a métodos de ensino defasados, não ensinam aos jovens como se comportar em ambientes online.A mídia social não está nos isolando à medida que nos cercamos de notebooks, smartphone e tablets; em vez disso, estamos ficando “hipersociais” em nosso altamente povoado universo digital, afirma o pesquisador Craig Watkins. No lugar de nos reunirmos para jogar boliche, como era moda na década de 50, usamos o Wii para desafiar pessoas do mundo inteiro.
O autor de The Yong and The Digital (O Jovem e o Digital), livro que versa sobre as pessoas que já nasceram em meio à revolução da Internet, conversou justamente com essa geração, durante palestra na Universidade de Western Washington, nos Estados Unidos.
Watkins rejeita a teoria de que a tecnologia aumenta nossa solidão, argumentando que os games multiplayers ajudam a cultivar amizades distantes e que o Facebook permite que amigos que se mudam para outras cidades não percam contato com os antigos conhecidos. “Não há lugar em que não possamos nos conectar com a rede e com entes queridos”, afirma.
Além disso, para pessoas com idade entre 18 e 25 anos, os “nativos digitais”, a Internet é indispensável para construir relações e se comunicar, defendeu, frente a uma platéia nada surpresa. Ironicamente, aqueles jovens que rejeitam aspectos desta modernidade, não aderindo ao Facebook, por exemplo, podem se sentir isolados de seus pares. “É uma alienação perigosa. É pela mídia digital que os jovens planejam seus dias, vivem suas vidas. Se você não faz parte desse mundo, está desconectado. É como uma obrigação para essa geração”.
Alguns, no entanto, estão ficando mais reticentes quanto a suas personas virtuais, observou. Mantêm, assim, duas páginas nas redes sociais: uma para possíveis empregadores, outra para amigos e conhecidos.
Mudança social
Watkins cita estatísticas interessantes. O Facebook possui mais de 600 milhões de usuários que gastam 700 bilhões de minutos por mês na plataforma. É de se esperar, portanto, que a maioria dos membros estejam na faixa etária de 18 a 25 anos. Ainda assim, esta média tende a aumentar já que os “baby boomers” – aqueles nascidos após a Segunda Grande Guerra – também estão criando seus perfis no portal. Outra questão intrigante é que as minorias (negros e latinos, por exemplo) usam mais os dispositivos móveis para atualizar suas contas do que os brancos americanos.
Em um futuro próximo, o autor aposta que o acesso por smartphones e tablets será predominante entre crianças entre 10 e 15 anos. Atualmente, 75% dos jovens com idade entre 18 e 25 anos possuem um celular, ante 66% em 2007.
A preocupação do especialista, no entanto, é em relação aos métodos de ensino. Muitos estudantes usam ferramentas digitais e o melhor seria ensiná-los a usá-las com ética, em vez de bani-las do meio escolar.
“Nossas crianças estão mudando, mas, e nossas escolas?”, questiona. “Elas já estão no século 21, mas nossas salas ainda funcionam à maneira dos séculos 19 e 20”. Precisamos correr, avisa, pois nos estamos próximo de um tempo em que as crianças criarão seus perfis por conta própria, sem a ajuda dos pais. Algumas, com apenas três anos, já sabem usar a Internet e as escolas devem estar preparadas para quando elas chegaram ao pré.
As redes sociais têm encorajado as crianças a escreverem mais – o que é positivo – mas, alerta Watkins, elas acabam ficando muito acostumadas a um certo estilo de texto e têm dificuldades na hora de passar para a prosa tradicional, o que pode se tornar um grande problema.
Outra questão é que não deverá demorar muito para que o vício em Internet seja declarado um transtorno social.
Próximos passos
Watkins, que estuda mídia social há seis anos, está começando uma pesquisa em que pretende acompanhar a evolução das plataformas online, principalmente quanto às consequências demográficas e possíveis malefícios á saúde.
Ele está consciente de que, até a pesquisa ser concluída, muita coisa pode mudar. O MySpace – uma vez o rei das redes sociais – foi abandonado rapidamente pelos usuários que pensavam que o Facebook lhes oferecia maio.