Indicadores expõe desigualdades no Rio
O Rio Como Vamos lançou na última semana o novo Sistema de Indicadores sobre a cidade do Rio de Janeiro. O Sistema traz dados de 90 indicadores em áreas como saúde, educação, violência e cultura, divididos por cada Região Administrativa da cidade. Os números são todos de fontes oficiais, que variam de acordo com a área pesquisada – dados de educação, por exemplo, são do censo escolar, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).Inspirado no Bogotá Como Vamos, que há 10 anos acompanha e divulga os indicadores de qualidade de vida na capital colombiana, o RCV tem como objetivo a ampla divulgação dos dados pela mídia. Assim, a população pode ter acesso de fato a eles e cobrar dos governantes políticas focadas nos principais problemas que prejudicam a qualidade de vida do carioca.
Como vai a educação?
Na área de educação, há indicadores sobre abandono escolar, reprovação, distorção de idade, entre outros. Os dados significativos correspondem à rede pública de ensino, pois grande parte das escolas particulares se recusaram a fornecer dados no censo. Os números mostram a desigual situação da educação na cidade.
A Cidade de Deus, com população estimada de 37.202 moradores em 2008, teve evasão escolar no Ensino Médio considerada precária na classificação do RCV. Mais de 30% dos alunos abandona a escola antes de concluir o Ensino Médio no bairro. O índice aumentou mais de 100% com relação a 2006. A menor taxa de evasão da cidade é oito vezes menor – 3,74%, em Vila Isabel.
A Maré, com população estimada de 128.645 pessoas em 2008, registrou a maior diferença entre o índice de evasão escolar de 2006 e 2008. A mudança, de acordo com os dados do censo, foi pra muito melhor. Se em 2006 o bairro representava índice de evasão de 43,24% – o pior do ano –, em 2008 foram 12,44%. Para a diretora da Redes da Maré, Eliana Silva, isso é resultado de aproximadamente dez anos de investimentos dos governos federal, estadual e municipal na educação, mas a situação ainda está muito aquém do desejado. “Em 2009 foram feitas três avaliações no município do Rio de Janeiro e as crianças estão abaixo do desempenho satisfatório”, afirma a pesquisadora. Eliana acredita também que houve melhoras na infraestrutura das escolas, porém a qualidade pedagógica foi menos desenvolvida.
Saúde também expõe desigualdade
Na área da saúde, no entanto, os moradores da Maré não têm o que comemorar. O bairro é um dos que têm maior número de mães adolescentes e mortes juvenis masculinas. A situação dos jovens é precária: 24,02% das meninas ficam grávidas antes dos 20 anos, enquanto mais de 365 homens jovens morrem em cada cem mil.
Os dados da Zona Sul da cidade são bem diferentes. Lagoa, Botafogo e Copacabana são os três bairros com menor percentagem de jovens mães, enquanto a Barra da Tijuca é o bairro onde morrem menos homens jovens1. Para a coordenadora da Vertende Direitos Humanos do Observatório de Favelas, Raquel Willadino, os dados da mortalidade mostram a desigual valorização da vida nos diferentes bairros da cidade. “Sabemos que, no caso das favelas, essas mortes de homens jovens estão bastante relacionadas à violência”, afirma Raquel. Segundo a pesquisadora, os crimes contra o patrimônio estão concentrados na Zona Sul, onde a população tem maior poder aquisitivo, enquanto os crimes contra a vida se concentram nas favelas, “onde o valor da vida é considerado muito menor”.
1 Considerando locais onde houve pelo menos 1 caso.