Ministro critica privatização, mas diz que todas as empresas poderão ser parceiras do governo
O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, foi crítico em relação ao processo de privatização da Telebrás. Em entrevista nesta quarta, 12, ao programa “3 a 1”, da TV Brasil, ele disse que as teles estatais foram vendidas a “preço de banana”, e que não é possível dizer que a mesma qualidade atual não seria atingida com empresas estatais bem geridas. “Os partidários do governo que fez a privatização falam que se não tivessem feito a privatização o Brasil ainda estaria no tempo do orelhão, é isso que o Serra falava no debate. É possível que isso seja verdade, mas não sabemos”. Segundo ele, se o Brasil tivesse continuado com as empresas estatais, poderia ou não ter chegado aos resultados atuais, “principalmente pelo uso que se fazia das empresas estatais, que claramente não tinham uma gestão adequada no governo deles”.
Para Paulo Bernardo, nessa discussão, o escândalo está na forma como foram vendidas as empresas, “com preço praticamente irrisório, com financiamento público, dinheiro do BNDES na maior parte dos casos, os leilões não tiveram transparência… Essa é a questão. Foram vendidas por um preço baixo, não havia uma política sobre o que fazer com o dinheiro, foi tudo para pagar dívida e o Brasil não teve benefícios patrimoniais com a privatização”. Para ele, “o setor se desenvolveu muito, mas há sempre uma dúvida se poderia ter sido desenvolvido com estatais ou não. Não vou nem discutir isso. Com toda sinceridade, as empresas foram vendidas a preço de banana. O setor está aí, vamos trabalhar com as empresas, mas acho que as nossas políticas setoriais, como o modelo elétrico, são muito mais eficazes”, afirmou.
Sobre a atuação da Telebrás, o ministro Paulo Bernardo disse que ela foi reativada “por uma conclusão a que chegamos no governo: as empresas que estão atuando não tiveram condições ou interesse em resolver o problema da difusão da banda larga, da Internet”. Segundo ele, o ex-presidente Lula sempre tratou essa questão com muito pragmatismo: “se o mercado resolve, tá resolvido”, disse. Para ele, “se (as teles) estivessem oferendo banda larga com condições técnicas adequadas e preço bom, massificando, aumentando… mas aparentemente as empresas fizeram uma opção por oferecer serviço para pouca gente e ganhar no preço, com lucratividade baseada no preço alto. A Telebrás entrou para ajudar a desenvolver esse mercado”.
Para o ministro, a discussão sobre a Telebrás levar acesso direto às pessoas não se coloca mais. “Acho que não é essa a função dela, mas tem que pressionar o setor para que eles percebam a responsabilidade que eles têm. A Telebrás entrou para ser mais um concorrente, competidor, para ajudar a regular o mercado e baixar o preço”.
Papel da Oi
Ao comentar se o governo estava satisfeito com os resultados da fusão entre Oi e Brasil Telecom, promovida pelo governo Lula, Paulo Bernardo disse que o governo impulsionou a fusão porque as empresas que atuam nessa área “são gigantes multinacionais e têm grandes ganhos de escala”. Para ele, “o resultado foi bom” e a Oi “é uma empresa que tem uma atuação em todo o país, de capital nacional, e é importante prestigiar isso”. Sobre a sugestão do Ipea para que o governo use a Oi para implementar algumas políticas públicas, como a compra de equipamentos nacionais, Paulo Bernardo disse que “políticas públicas podem ser feitas através da Oi, mas pode ser feita através de outras também”.
Para ele, “se alguma empresa dessas que atua no setor quiser fazer parceria com o governo para o projeto de banda larga, nós vamos fazer, não vamos dispensar. Mas temos que estabelecer em que condições vai ser feito isso. Se for ter custo para o governo, teremos que olhar mais ainda. No caso do Banda Larga nas Escolas, teve o custo para a sociedade. A Oi querendo ou qualquer outra, não vamos abrir mão da parceria”, reforçou. Participaram da entrevista com o ministro este noticiário ao lado da jornalista Elvira Lobato da Folha de S. Paulo e do apresentador do programa, Luiz Carlos Azedo.