As Copas das (Tele)comunicações
Depois de 64 anos, a Copa do Mundo de futebol volta a ser disputada no Brasil. Em campo, o país lutará pela conquista do sexto título de campeão. Fora de campo, duas partidas estratégicas definirão o rumo das nossas comunicações: o leilão dos 700 MHz e a renovação dos contratos de concessão da telefonia fixa. Na primeira, estará em jogo a possibilidade de alcançarmos altas velocidades para a banda larga móvel. Na segunda, a oportunidade de garantirmos metas de universalização da banda larga fixa.
A história das conquistas e derrotas brasileiras nas Copas é, também, a história dos avanços e retrocessos das telecomunicações no país. Em 1950, quando um Maracanã lotado assistiu mudo o Uruguai vencer a seleção brasileira, o restante do país só pôde acompanhar a partida pelo rádio. A televisão dava os seus primeiros passos.
Em 1958, quando o país ganhou a Copa da Suécia, a televisão ainda era um objeto de luxo, restrito a poucas pessoas. Mais uma vez, a população acompanhou a retumbante vitória da nossa seleção pelo rádio.
Em 1962, quando o Brasil se tornou bicampeão mundial de futebol, os rádios portáteis eram o sonho de consumo dos jovens brasileiros. Os rádios, que podiam ser levados para qualquer lugar, foram a marca tecnológica da Copa de 62. E pela primeira vez, os brasileiros puderam assistir aos jogos graças ao vídeo tape. As fitas chegavam de avião e eram exibidas nos dias seguintes aos jogos.
Do lado de fora do campo acontecia uma estreia tardia. Finalmente o país tinha uma legislação para as telecomunicações com a criação do Código Brasileiro das Telecomunicações. Código que, infelizmente, permanece até hoje por pressão dos radiodifusores, que não aceitam uma nova lei para regular as comunicações em nosso país.
Em plena ditadura militar, 1970 foi um ano difícil no Brasil. Torturas, prisões ilegais, mortes. Mas no futebol havia uma unanimidade: éramos os melhores do mundo. Via Embratel, a estatal criada em 1965, os jogos eram transmitidos por satélite e, pela primeira vez, em cores. Alguns poucos aparelhos adaptados recebiam a transmissão experimental no Rio de Janeiro, em Brasília e em São Paulo. Em 1972 aconteceria uma verdadeira revolução nas telecomunicações brasileiras: a criação da Telebrás.
1988 não era ano de Copa, mas com a redemocratização brasileira foi promulgada uma nova Constituição na qual foi escrito o monopólio estatal das telecomunicações.
Em 1994, conquistamos o tetracampeonato com uma bola fora dos italianos nos pênaltis. Fora do campo, um ano depois o governo FHC dava uma bola fora ainda maior. O monopólio constitucional das telecomunicações foi quebrado.
Quatro anos depois perdemos nos dois setores: no campo e na economia. Em 1998 as telecomunicações foram privatizadas e, ao contrário do que ocorria em todo o mundo chamado desenvolvido, abrimos mão de termos uma empresa forte de telecomunicações. O centro de pesquisa, CPqD, perdeu a sua essência de pesquisar e desenvolver tecnologia de ponta nas telecomunicações.
Quando o Brasil ganhou a sua quinta Copa, em 2002, o país pedia mudanças. E elas vieram. No campo, a seleção amargou derrotas em 2006 e 2010. Neste ano a derrota maior foi sentida nas telecomunicações. Era ano de revisão dos contratos de concessão. Um capítulo inteiro sobre banda larga foi posto para consulta pública, o que obrigaria as concessionárias a investir na universalização da banda larga. Ao final, pressionada pelas operadoras, a Anatel capitulou e sumiu com o capítulo.
Nós, do Instituto Telecom, torcemos para que este ano o Brasil seja hexacampeão. Mas não abrimos mão de avançarmos nas (tele) comunicações democratizadas e universalizadas. Queremos chegar à Copa de 2018 para disputar o hepta com um país mais forte, consolidando o crescimento com ampla participação popular. Uma comunicação assegurada como direito e uma mídia efetivamente democrática.