Muito além do Copom e das operadoras de telecomunicações
A nova diretoria da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), comandada pelo empresário Josué Gomes da Silva desde julho de 2021, parece ter deixado para trás a administração que tinha o pato amarelo como símbolo do golpismo. Tomara.
Em nota oficial, critica a alta dos juros e defende que o foco da economia deve ser numa política de desenvolvimento. As decisões do Copom, para além de seus efeitos sobre a economia, “deveriam soar como alerta sobre tudo o que deixamos de fazer a contento para colhermos crescimento econômico com geração de emprego e renda de modo sustentável”, enfatiza a Fiesp.
“Muito mais que o BC e o Tesouro, são os poderes da República e a sociedade que devem dar as diretrizes visando o interesse comum do desenvolvimento nacional”, diz a nota intitulada “Muito além do Copom”. Ou seja, a economia tem que ser pensada muito além do Comitê de Política Monetária (Copom) e da sua política de juros.
No entanto, parece que os novos ares da Fiesp não alcançaram o estratégico setor das telecomunicações.
Em janeiro de 2021, no jornal do Clube de Engenharia, o então conselheiro Márcio Patusco salientava que falta estratégia para indústria nacional de telecomunicações:
1) “Na privatização ocorrida em 1998 não houve preocupação efetiva em se apoiar P&D nem a indústria local, que naqueles tempos era responsável por quase metade dos fornecimentos para equipar as diversas redes de telecomunicações existentes. A indústria local nas décadas de 70, 80 e 90 se constituía em importante núcleo de desenvolvimento de soluções adequadas à realidade nacional, tais como sinalização telefônica via satélite, orelhões, cartões indutivos, centrais de comutação, equipamentos de rádio e fibra ótica, entre outras.
2) “O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da Telebrás, e suas incubadas, era considerado o maior centro de desenvolvimento fora do eixo EUA, Europa, Japão. Aos poucos as indústrias foram sendo desmanteladas e o surgimento de novas se deu de forma tímida”.
3) “Os recursos públicos destinados a este desenvolvimento pós privatização — os fundos de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel) e de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) — foram criados, mas seguidamente contingenciados para outras finalidades.”
Estamos ficando cada vez mais para trás, e perdemos mais uma oportunidade com o leilão do 5G. Um leilão elitista, marcado por denúncias de fraude, favorecimento dos grandes grupos econômicos, ausência de compromissos com o investimento na pesquisa, na cultura, no desenvolvimento nacional. O 5G é importante e estratégico, mas não da forma como querem implantar no Brasil.
O Instituto Telecom reafirma as palavras do Clube de Engenharia. “Para que o setor retome seu caminho desenvolvimentista, deve haver vontade política aliada a um planejamento de médio e longo prazos que identifique continuamente áreas tecnológicas que possam ser objeto de fomento no interesse nacional e possam vir a alavancar o país
para uma situação mais cômoda entre aqueles que detêm as maiores redes de telecomunicações do mundo”.
Temos que ir além dos interesses das grandes operadoras de telecomunicações.
Instituto Telecom, Terça-feira, 15 de fevereiro de 2022