Nossa Opinião: Outra internet é possível!

abr 29, 2025 by

Nossa Opinião: Outra internet é possível!

“Estando as plataformas e data centers controlados pelas Big Techs, as infraestruturas digitais estão concentradas nos países tecno-economicamente ricos. Neste contexto, a dataficação – que pode ser caracterizada como a conversão do cotidiano em matéria-prima a ser capturada privadamente e convertida em fonte de lucro – expansiva gera uma nova divisão internacional do trabalho que eleva as assimetrias entre países e populações como expressões do colonialismo digital e de dados”.

Essa reflexão é um dos pontos destacados na apresentação do trabalho Estudos Sociopolíticos da Inteligência Artificial, de autoria de Sergio Amadeu e Rodolfo Silva.
Um capítulo importante trata da inteligência artificial, data centers e localização de dados.

1) Os data centers – “compõem a infraestrutura básica da economia informacional. No capitalismo digital um conjunto de empresas passaram a estocar os fluxos de dados nas redes. ( …) Por mais que esses oligopólios digitais (Big techs) tenham data centers espalhados pelo planeta, a maioria deles se concentra em áreas estratégicas do norte do mundo”.

2) Dataficação – “A procura por lidar com uma quantidade crescente de dados e com as possibilidades abertas pela internet de rastrear o comportamento online dos consumidores aumentou a necessidade e a complexidade do armazenamento de dados (…) Esse cenário de dataficação crescente colocou a questão do armazenamento de dados como elemento crucial da competição capitalista”.

3) Big Techs como mediadores – “Para treinar modelos, armazenar dados e depois mantê-los rodando e disponíveis requer uma grande infraestrutura, muita banda de acesso, ou seja, uma conectividade adequada. Assim, quanto mais avançarmos na utilização da Inteligência Artificial -IA- baseada em dados, mais aprofundaremos nossa dependência dessas grandes estruturas de nuvem. Dito de outra forma, as Big techs parecem avançar como mediadores da utilização do aprendizado de máquina em todo o planeta, centralizando recursos de processamento, dados e capacidade econômica.”

4) Pesquisa e desenvolvimento – “No entanto, essa centralização, que resulta em um acesso desigual a esses dados e um oligopólio no fornecimento de big data por parte de algumas gigantes de tecnologia, tem o potencial de impactar negativamente a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico”.

5) Etnia branca e masculina – “É crucial destacar que muitos dos conjuntos de dados amplamente empregados derivam de conteúdos extraídos da Internet, os quais tendem a refletir predominantemente perspectivas enviesadas que favorecem o inglês, a cultura americana, a etnia branca e a visão masculina”.

7) Controle pelas Big techs e de Estados ricos – “Um dos principais operadores dessa desigualdade é também o seu maior beneficiário: as plataformas digitais (… ) Nessa condição, também são agentes do colonialismo de dados que se manifesta na impossibilidade e na incapacidade de países, nações e comunidades controlarem e manterem em seu domínio e jurisdição dos seus próprios dados. O colonialismo de dados assim expressa o colonialismo digital que confirma o poder de poucas e grandes empresas aliadas a poucos e ricos Estados que a partir do domínio do desenvolvimento tecnológico concentram as vantagens econômicas, políticas e militares”.

8) Dependência dos países pobres – “A extração de dados das populações dos países que não possuem condições de armazená-los, processá-los e analisá-los em seu próprio território, seja pela inexistência de infraestruturas adequadas, escaláveis, seja pelo alto custo do armazenamento ou da conectividade locais, vai reforçando a dependência das Big Techs e a subordinação tecnocientífica aos laboratórios dos países tecnoeconomicamente ricos”.

9) Divisão internacional do trabalho e da renda – “Desse modo, os países tecnoeconomicamente pobres vão assumindo a condição de usuários de soluções criadas pelas grandes empresas de tecnologia dos países ricos e também vão incorporando o papel de produtores de aplicativos para o ecossistema de IA das Big Techs.

10) Soberania digital – “Nessa divisão internacional do trabalho e da renda, a questão da soberania digital e de dados entra como um elemento incômodo e limitador à concentração de riquezas e à naturalização dos processos promovido pelas grandes empresas”.

Apesar da complexidade do tema, está claro que para as Big techs (basicamente grandes conglomerados norte-americanos) não interessa qualquer nível de controle do fluxo de dados. Falam em liberdade como se fosse para todos, mas na verdade defendem a liberdade de exploração e lucros exacerbados. A regulação dessas empresas, elementos chaves do capitalismo atual, é estratégica.

No Brasil, a campanha Internet Legal afirma: “Queremos uma internet que fortaleça os laços entre as pessoas. Uma internet onde a vida venha antes do lucro. Onde a gente possa conversar, aprender, trabalhar, criar, amar — com liberdade e sem medo… Outro mundo é possível. Outra internet também”.

Instituto Telecom, Terça-feira, 29 de abril de 2025
Marcello Miranda, especialista em Telecom

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