Por um mapa da exclusão digital

ago 27, 2024 by

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou pesquisa que mostra que, em 2023, 92,5% das residências no Brasil possuíam banda larga. E mais: a internet cresceu tanto na área rural, quanto na urbana.
Parece muito bom, mas não é.

No ano passado, aqui mesmo no Nossa Opinião, divulgamos estudo do Cetic.BR, ligado ao CGI.br, sobre conectividade significativa. No mesmo período, a ConectarAGRO publicou o Indicador de Conectividade Rural (ICR). Diferentemente do IBGE, os dois documentos indicam uma enorme desigualdade e exclusão digital. Quem tem razão? Todos ou ninguém?

O Cetic.BR utiliza o conceito de conectividade significativa, que aponta que “questões relacionadas a qualidade do acesso, dispositivos disponíveis para uso e habilidades digitais, entre outras, devem ser consideradas para promover uma conectividade significativa da população e das organizações que utilizam a rede”.

Para tanto, o Cetic.BR considera nove indicadores: custo da conexão domiciliar, plano de celular; dispositivos per capita; computador no domicílio; uso diversificado de dispositivos; tipo de conexão domiciliar; velocidade da conexão domiciliar; frequência de uso da Internet; locais de uso diversificados. Quanto mais próximo de nove, melhor a situação. Quanto mais perto de zero (sem nenhum dos indicadores) pior a situação.

Entre as cinco regiões do país, o Norte possui um grupo entre 0 e 2 pontos de conectividade significativa, nível baixíssimo no qual estão 44% da população. No Nordeste, são 48%. No Centro-Oeste, 33% da população. Já as regiões Sul e Sudeste possuem, respectivamente, 23% e 25% da população com até 2 pontos de conectividade significativa. Ou seja, a conectividade significativa não está adequada nem nas regiões melhor atendidas.

Há cerca de um ano, Paloma Rocillo, diretora do Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS), observou que o conceito nos leva à seguinte reflexão: “não podemos colocar num mesmo espectro de usuários de Internet a pessoa que usa a Internet pelo menos uma vez a cada três meses, indicador muito utilizado em diversas pesquisas, e aquela que a usa diariamente. Nesse sentido, conectividade significativa foca na experiência efetiva das pessoas, o que pode trazer elementos mais precisos para a elaboração de políticas públicas”.

Um outro exemplo que indica resultados diferentes do IBGE.O agronegócio lançou, em 2023, por meio do ConectarAGRO, o Indicador de Conectividade Rural (ICR). “O índice, desenvolvido em colaboração com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), aponta que apenas 18,8% da área agrícola produtiva (isto é, excluindo reservas e áreas não produtivas) no Brasil têm condições de conectividade adequada para atividades operacionais, com uma concentração maior nas regiões Sul e Sudeste”.

Pelo que tudo indica, há uma grande exclusão digital em nosso país, mas, oficialmente, não temos um mapa oficial da internet no país. Esse mapa deve ser construído pelos vários atores: sociedade civil empresarial e não empresarial; centros de pesquisa; governos federal, estadual, municipal com uma abrangência que possa ser utilizado na definição de políticas públicas sérias, eficientes e eficazes.

Instituto Telecom, Terça-feira, 27 de agosto de 2024

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