O ranking das economias mundiais

jan 24, 2010 by

Ranking das Economias MundiaisBrasil 5ª. economia. Mas, quando?

O Brasil parece predestinado a ser o 5º. Já ocupa o 5º maior território (atrás de Rússia, Canadá, China e EEUU) e tem a 5ª maior população (atrás de China, Índia, EEUU, Indonésia.) Território é um indicativo da presença de recursos (terras aráveis, minérios, fontes de energia, petróleo, etc.) e população, se capacitada e educada para o trabalho, é um indicativo de capital humano. Logo, o Brasil ter a 5ª economia é apenas uma conseqüência lógica e natural de suas dimensões. Basta ser mediano em desenvolvimento, dispor de mecanismos que permitam ao capital financeiro fluir e algum empenho do estado para corrigir as distorções que os mercados podem provocar.

Não tem muita importância isso de 5º, posto que nossa renda per capita ainda será uns 20/25% da verificada nos países desenvolvidos e nossos indicadores sociais (componentes do IDH) ainda estão 15% aquém do desejável. E não será em poucas décadas que a expectativa de vida será mediterrânea ou a educação será escandinava. No nosso entorno latino-americano, Chile, Uruguai, Venezuela, Argentina e México ainda são mais desenvolvidos em vários aspectos. Se em horizonte próximo alcançarmos nossos hermanos, o filme já será bom.

Mas vamos ao nosso exercício de “porque me ufano de meu país” 🙂

As projeções de PIB que são frequentemente apresentadas por consultorias, jornais ou mesmo CIA, deveriam vir acompanhadas das premissas consideradas. Raramente o fazem, não se sabe o porquê, até porque as variáveis envolvidas macro são relativamente estáveis (*) e interdependentes. Então, mesmo que haja pouca chance de se acertar nos números absolutos, o risco de se errar nas distâncias relativas entre países é pequeno. (* Situações como a da crise mundial de 2008-2010 são inusuais.)

Cada um pode fazer seus cenários, as bases históricas de longo prazo para todas as economias do mundo e para o período 1960-2008 (PNB) ou 1980-2007 (indic. sociais) estão disponíveis nos sítios :

http://hdr.undp.org/en/ e/ou http://www.worldbank.org/

Mas o básico necessário para começar está na edição “O Mundo em 2010”, disponível em bancas.

Simplificações e premissas adotadas nesta projeção:

– Oscilações por crises esporádicas ou localizadas tidas como compensáveis no longo prazo (por aproveitamento de capacidade ociosa, por ex.) Surgimento constante de novas tecnologias, ecossustentáveis, de modo a garantir taxas históricas de crescimento mundial da renda por habitante (modelo não-malthusiano)

– Países menos desenvolvidos tendem a apresentar maior crescimento de renda que o de países já desenvolvidos (por população e/ou oportunidades para o capital): OCDE acima de US$ 20 mil/ano/hab. : 2% a.a. / Em desenvolvimento mais ricos que o Brasil : 4 % / Brasil : 5 % / Em desenvolvimento mais pobres que o Brasil : 6 % [Ponto de partida: previsões da The Economist para 2010.]

– Ajustes pontuais por país, em função de histórico recente (1980-2010), são considerados (para incorporar modelos político-econômico-sociais diferentes. Ex.: para a China é suposto 8% a.a. até 2020.) Zona do Euro ainda é considerada por nação

– Inflação em US$ constante de 2% a.a. (dado real para o período 1991-2000 = 2,4%, 2001-2010 = 2,3%)

– Países tendem a apresentar valorização cambial à medida em que suas rendas se aproximam às dos países desenvolvidos [Ponto de partida: Paridade do Poder de Compra (PPC) para 2008, Banco Mundial] Limite: convergência aos preços praticados nos EEUU no longo prazo para países com renda atualmente a partir de US$ 10 mil/ano/hab.

– Especificamente para o Brasil: manutenção da valorização cambial atual, ainda que a mais elevada da América Latina. Sustenta-se em que não haja atrasos na exploração do Pré-sal, que o agronegócio continue dinâmico e que retorne a tendência de longo prazo de valorização de matérias-primas e de seu aumento de demanda no comércio internacional. Evidentemente há riscos nesse cenário, particularmente o de crescer menos que 5% a.a. (As premissas sobre câmbio não se refletem neste primeiro gráfico, que é em termos de Paridade do Poder de Compra)

Resultados :

(No gráfico é apresentado, propositadamente, também o período 1980-2010, cobrindo portanto, 51 anos. A intenção é mostrar que são poucos os casos de alteração de posições relativas e que as simplificações adotadas não destoam significativamente da história real.)

http://www.flickr.com/photos/bibliomania_lv/4299954770/

Pelo critério de Paridade do Poder de Compra, em 2010 o Brasil já deve ser a 9ª maior economia (A Itália foi ultrapassada em 2008). Sucede aos seguintes países (entre colchetes o provável ano de ultrapassagem) : EEUU, China, Japão, Índia, Alemanha [2020], Reino Unido [2012], França [2012], Rússia [2011]. Assim, no Bicentenário, seremos mesmo a 5ª. economia em termos reais. Mas por volta da Copa e das Olimpíadas somente seremos a 6ª.

Curiosidade 1 : daqui a dois ou 3 anos o México, que passou Espanha e Canadá no período 1998-2000, deve ultrapassar a Itália. Daí até 2030 haverá poucas mudanças relativas e as 10 maiores economias serão as mesmas. Curiosidade 2 : O Brasil chegou a ser a 8ª maior economia em 1980, último ano do “milagre”. A ultrapassagem pela China deu-se em 1987 e pela Índia em 1992, mantendo-se, portanto, em 10º lugar pela maior parte dos anos até 2007, mas durante a recessão russa de 1995-2002 ocupou temporariamente a 9ª posição.)

Não faz muita diferença, agora, as diferenças cambias. Um cenário alternativo, de desvalorização cambial real, traria as seguintes conseqüências: o ano em que o Brasil alcançaria o 5º lugar em termos de PPC seria mais próximo (2018 ou 2019), com maior taxa de crescimento real.

Os anos em que o Brasil alcançaria o 6º e 5º lugares, em termos de US$ correntes continuariam, no entanto, posteriores e dependentes da cotação do Euro. Há picos de longo prazo para a cotação do dólar, moeda a qual o Real mais acompanha. Os últimos picos de valorização foram 1985 e 2000, aproximadamente. Somente se o US$ voltar a valorizar até 2016 em relação ao Euro (um novo pico, portanto, agora um tanto improvável) e se o Real acompanhar essa valorização, é que seria possível ser a 5ª. economia em algum critério durante a Rio-2016. É que neste caso, mesmo sendo ainda a 6ª. economia em termos reais, a Índia continuaria com a moeda desvalorizada e pela ordem as maiores economias seriam EEUU, China, Japão, Alemanha e Brasil.

Hoje, as economias do G-20 estão entre as 26 maiores do mundo. A menor delas é África do Sul (US$ 0,5 tri.) As 7 grandes economias fora do G-20 hoje são Espanha, Irã, Tailândia, Holanda, Polônia, Turquia e Egito. Não deve haver nenhuma modificação significativa no clube. Em 2030, em virtude tanto de inflação como de crescimento apenas 5 países poderão se aproximar da África do Sul : Paquistão, Nigéria, Colômbia, Filipinas e Malásia. Todas as demais economias serão de países pouco populosos ou de baixa renda. A constituição atual do G-20, portanto, manterá perfeitamente sua representatividade.

Antes de 2030, em função de crescimento populacional e dinamismo da economia, o distanciamento em relação a economias européias estará consolidado. A partir de então o crescimento populacional provavelmente diminuirá e o próprio dinamismo da economia brasileira também (o país já estará mais desenvolvido). Países asiáticos e africanos (Paquistão, Bangladesh, Nigéria) ultrapassarão a população brasileira, mas ainda estarão com renda baixa. Assim, a única alteração previsível entre as primeiras posições por décadas seria o Brasil ultrapassar o Japão (em meados da década de 30). Nesse momento, o Brasil deverá ser a 4ª. economia, porém 8ª população.

Não podemos esquecer que “tudo que é sólido desmancha no ar”. Até 1986 o PNB do Brasil era maior que o da China, por exemplo. Mas era metade do da Rússia… (Esses são os casos mais “dramáticos” de mudanças de posição nos últimos 30 anos.) Por outro lado, tratando-se de economias maduras, oscilações são pequenas. Em 1980, a economia da França era a metade da do Japão. Já em 2010, a economia da França é em relação a do Japão, a metade…

E, muito importante, sempre lembrando que relevantes mesmos seriam os indicadores relativos de renda per capita, IDH (saúde, educação), concentração de renda e segurança civil e institucional. A pesquisar…

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